A autonomia nas crianças é um tema cada vez mais falado e destacado, devido à importância que tem no desenvolvimento infantil e na formação de futuros jovens e adultos saudáveis e independentes. Mas o que é a autonomia da criança? De acordo com o livro da terapeuta ocupacional Paula Serrano
“O desenvolvimento da autonomia dos 0 aos 3 anos”: “A autonomia da criança está relacionada com o desenvolvimento da noção que esta tem da sua capacidade para fazer com que certas coisas aconteçam e que consegue agir e pensar por si mesma”
Quantas crianças sabem apanhar um autocarro? Quantas crianças sabem o caminho para casa? Quantas crianças sabem fazer recados simples aos pais? Evidentemente, numa época tão acelerada em que os dias parecem pequenos, os pais preferem fazer eles todas as tarefas, pois não têm tempo para explicarem tudo aos seus filhos ou querem protegê-los dos fracassos.
Quando as nossas crianças têm oportunidade de tomar decisões, de resolver conflitos e situações desafiantes do seu dia-a-dia, isso fortalece a sua autoestima, apoiando também o desenvolvimento das competências sociais e emocionais. Mas, infelizmente estas capacidades estão cada vez mais a desaparecer, notando que temos crianças mais introvertidas, com medos e crises de ansiedade. Congelam em situações novas, não sabendo como solucionar problemas que, em gerações anteriores, seriam simples de resolver.
Os principais cuidadores da criança desempenham um papel importantíssimo na promoção da autonomia. Para isso devem oferecer escolhas apropriadas para a idade da criança, incentivando à responsabilidade, dando espaço e escolha para as crianças enfrentarem desafios e apoiando-as nas suas decisões, mesmo que cometam erros.
No entanto, estamos numa época em que isso não acontece como deveria. Atualmente, vivemos numa era em que os pais se sentem sobrecarregados de trabalho e de todas as exigências do dia-a-dia e, por vezes, acabam por limitar a autonomia das crianças nos seus cuidados pessoais. Vemos crianças a serem alimentadas com a ajuda de um ecrã, sem conhecerem a verdadeira textura e sabor dos alimentos que comem. Vemos crianças robotizadas em aprenderem os números, as letras e a saberem mais da ciência e matemática, quando na realidade são solicitadas para se vestirem sozinhas e não o conseguem fazer autonomamente. Estas dificuldades podem dever-se a défices psicomotores, no entanto, deve-se, na maioria das vezes, à falta de estímulo e incentivo.
Existe uma dificuldade por parte da sociedade em atribuir responsabilidades às crianças como tarefas domésticas, por exemplo, preparar o lanche da escola, ajudar na elaboração das refeições, limpar o seu quarto ou gerir dinheiro. Isto deixa as crianças dependentes de outras pessoas para atender às suas necessidades básicas. A terapia ocupacional poderá ajudar em casos de crianças com maior comprometimento a nível da funcionalidade, tendo como objetivo a promoção da autonomia, nas diferentes áreas de ocupação e contextos e, por isso, poderá fomentar e dar estratégias aos pais de como podem auxiliar nas rotinas das suas crianças.
Vamos apelar e gritar pela autonomia das crianças, para preparar a sua vida adulta. Os pais e educadores desempenham um papel fundamental, a fim de, permitirem que as crianças cresçam como indivíduos independentes e capazes de enfrentar os diversos desafios da vida. E de que forma o podemos fazer? Estabelecendo limites e responsabilidades apropriadas a cada idade; encorajar a criança à resolução de problemas e tomada de decisões; promover as suas competências sociais e de comunicação; apoiar a autonomia e independência, permitindo que cometam erros e aprendam com eles; fornecer orientação e apoio, mas também dar espaço para que as crianças desenvolvam as suas capacidades livremente.
Autoria: Anabela Silva – Terapeuta Ocupacional na Clissol